Filipe Esteves, que conquistou o cinturão do Brazil MMA, doa quantia recebida para Rildeci Escorpião ao saber que oponente viajou do Pará até a Bahia, palco do duelo, de ônibus
Filipe Esteves conquistou o cinturão do Brazil MMA, no último sábado, em Salvador, na Bahia, ao finalizar Rildeci Escorpião no segundo round. A vitória – a sétima de sua invicta carreira no esporte – ficou de lado quando o anfitrião anunciou que doaria a bolsa do combate ao adversário. Comovido ao saber que o oponente viajou de Belém, no Pará, até a capital baiana de ônibus (cerca de 35h), por uma bolsa no valor de R$ 500, ele decidiu ajudá-lo.
A ideia surgiu às vésperas do evento, segundo Filipe, que recebeu R$ 500 de bolsa – mesmo valor do atleta derrotado no cage. A saga de Escorpião o impressionou, afinal, foi do Norte ao Nordeste para um confronto que mal cobriria os gastos.
– Eu estava olhando as lutas dele no Instagram, vi que era um cara humilde. O evento não paga passagem, a bolsa é de R$ 500. Estava conversando com meu pai, José Carlos, como a situação do atleta brasileiro é uma mer**. Sou da seleção de wrestling, sei das dificuldades. Muitos colegas desistiram do esporte devido à questão financeira. Eu soube da batalha do Rildeci, que veio de Belém do Pará para Salvador de ônibus, em busca do sonho. Deve ter gasto R$ 300 de ônibus (a passagem, na realidade, custa R$ 427), ainda tem que comer na estrada… Vai lutar por R$ 200? É quase de graça, vai pagar para lutar. Falei ao meu pai: “Vou dar a bolsa para ele”. É um dinheiro que vai ser melhor para ele do que para mim – relatou ao Combate.com.
Tocado pela força de vontade de Rildeci Escorpião, Filipe consolou o adversário no cage após a finalização e revelou que cederia a quantia da bolsa a ele.
– Fiquei sentido. Eu falei: “Irmão, levanta a cabeça. Você saiu da sua cidade para vir até aqui de ônibus. Eu gostaria de te dar minha bolsa. Você merece, é batalhador. Levante a cabeça”. Ele começou a chorar, eu chorei também (risos). Ele agradeceu para caramba, me mandou vídeo no celular. Vida de atleta no Brasil não é para qualquer um. O que ele fez não é para qualquer um.
A atitude de Filipe Esteves – pai de uma menina de dez meses – se tornou mais nobre pois ele abriu mão do dinheiro mesmo necessitando. Integrante da seleção brasileira de wrestling, o baiano realiza uma “vaquinha virtual” para arrecadar R$ 15 mil e ter condições de disputar o Campeonato Mundial Pré-Olímpico de Wrestling, no Cazaquistão, em setembro. Professor de judô em uma escola para crianças, ele tira o sustento do emprego e não conta com nenhum patrocinador – o pai é quem dá o suporte para que ele siga no esporte. A bolsa o ajudaria, mas ficou sensibilizado com a história de Rildeci.
– A passagem para a Ásia é cara, tem a inscrição que é 500 dólares, hospedagem… Eu arrecadei cinco mil e pouco até agora. Estou dando seminários, os amigos estão ajudando. São dez etapas de competição. Se eu não conseguir ir nessa, vou tentar ir nas próximas. Só tenho meu “paitrocinador”, que me mantém no esporte. Dou aula de judô para crianças há dez anos, e wrestling em uma academia.
– A passagem para a Ásia é cara, tem a inscrição que é 500 dólares, hospedagem… Eu arrecadei cinco mil e pouco até agora. Estou dando seminários, os amigos estão ajudando. São dez etapas de competição. Se eu não conseguir ir nessa, vou tentar ir nas próximas. Só tenho meu “paitrocinador”, que me mantém no esporte. Dou aula de judô para crianças há dez anos, e wrestling em uma academia.
Aos 29 anos de idade, Filipe Esteves concilia a carreira no MMA com a de atleta olímpico – soma quatro títulos brasileiros e quatro sul-americanos no wrestling. O objetivo da vez, porém, é entrar no UFC.
– Eu assistia às fitas do UFC desce criança. Eu falei para o meu pai: “Vou lutar MMA”. E ele disse: “Você é duro, raçudo, será um bom lutador”. Sempre tive esse sonho. Tenho dois focos, mas o maior deles é entrar no UFC, vai mudar a minha vida. O esporte olímpico, financeiramente, não vai mudar. Tenho que pensar no meu futuro financeiro, tenho uma filha de 10 meses. Minha meta é entrar no UFC. O sonho olímpico ainda se mantém, mas está em segundo plano. Quero fazer duas ou três lutas ainda esse ano e espero entrar no UFC o mais rápido possível.
Fotos: Adilton Venegeroles/ Brazil MMA
Fonte: COMBATE/GLOBO.COM